Monday, February 27, 2006

Agorinha, o tempo parou. porque as palavras entalaram num ruído dissilábico : amoramoramoramor ! então eu estendo os pés, entre as coisas que nascem no silêncio do chão, entre as raízes que crescem mudas, como vozes abafadas pelo calor, eu estendo meus pés, cheia, tão cheia ! que poderia morrer de mim mesma. satisfeita : existe ! e eu estou tão cheia. porque parece que há um sentido maior - tão enigmático - que me possui entre os dentes, me carrega feio trapo entre os dentes e me balança com violência. eu caio então dentro das águas frias e congelo, pedra no fundo, a carne se destrincha vermelha e escorre. eu deslizo feito uma perna decepada pela calma das águas, tão maternais, me abrigo entre os vazios que há entre cada átomo tão certo. então é assim : você surge como o inegável e eu desejo até que a última coisa de mim - a minha válvula esquerda, a minha bomba esquerda ! - seque de desespero. o gosto da ausência, como um pedaço da sua unha, dorme na minha língua, eu crio buracos no ar tateando seu espaço. pois que tenho pés e os estendo : as folhas crescem e o verde todo cobre os vãos do azulejo. joaninhas colorem minhas mãos vazias. tudo surge do estéril ? como estalos de poesias agudas .

Mysteries of love
Where war is no more
I'll be there anytime
beth gibbons and rustin' man

Tuesday, February 21, 2006

o espelho distorcido.

Tudo começou com um não. Um não? Um não.
Entardecia. Andava entre os velhos prédios da universidade: lá estavam os músicos, linguistas, químicos e biólogos do futuro. E entre os novos: físicos e engenheiros e todas essas coisas.
Entardecia. Ja falei que entardecia?Entardecia. Agora tenho que tentar contar as doze horas seguintes ao crepúsculo. Sobraram apenas peças desconexas (disconexas?): fui ao posto comprar tres ou quatro garrafas de vinho - sobrou -, o telefone tocou duas vezes. Meia noite e duas da manhã? O livro de calculo aberto sobre a mesa, o beliche desarrumado. Deitei. Não havia sono. Los hermanos, Cat Power. Talvez uma gripe.
Começava a perder minhas certezas aquela noite? Penso que sim.
Amanhecia. Nada parava no meu estomago. Ressaca: nunca tinha tido. Saí de casa, tudo doia. Não havia futura naquelas paragens. (não há futuro?)
Quando o sol começou a se animar eu entrava em São Paulo e ali estava guardada a esperança necessária para esse dia em que nada funcionou e eu desaprendi os caminhos. Demorei pra começar a me refazer, me reinventar. Outros entardeceres(?) se seguiram mas as certezas não voltaram. Nem os caminhos. (o que é diversão? o que é personalidade? que parte ainda sou eu?)
No grande dia, amanhecia. E eu começava a me apaixonar, sem saber, pelas surpresas escondidas no tempo. Mesmo me perdendo pela cidade. Mesmo sem partilhar as contas. (Amanhecia?) Todo o vento do mundo. Me perdia. (Valeu a pena?)
Me afogo em olhares agora. Minha geografia incerta. Sua geografia torta. O tempo passando espertamente: dono da noite, pronto pra castigar nossa pele fria. Entardecia...